Catálogo de Erros
“Amanhã talvez vocês provoquem a destruição de seu mundo. Amanhã talvez vocês cantem no Paraíso acima das ruínas fumegantes de suas cidades mundanas. Esta noite, porém, eu gostaria de pensar em certo homem, num indivíduo sozinho, num homem sem nome nem pátria, num homem que eu respeito porque ele absolutamente nada tem em comum com vocês: EU. Esta noite vou meditar sobre aquilo que eu sou.” (Henry Miller)
Há dez anos atrás, com pleonasmo e tudo, eu chorava despedidas em uma conhecida rodoviária. Há dez anos, pessoas também choravam minha despedida em uma rodoviária conhecida. Um dia depois, também dez anos atrás, eu chegava a uma rodoviária desconhecida.
Foi no dia 20 de fevereiro de 1997, apenas cinco dias depois de minha formatura, com requintes de última rebeldia estudantil, com orador e juramentista desancando o detestável reitor, que eu deixei a rodoviária de Birigui rumo a meus novos caminhos.
Há dez anos atrás, com pleonasmo e tudo, no dia 21 de fevereiro, eu chegava de mala cheia a Goiânia, onde pisara antes uma única vez. No hotel barato, ventilador – que não uso por causa da rinite – e solitária tevê. Solitário hóspede.
Dez anos atrás, quando deixei o hotel, pensaram, no pensionato de dona Fádua e Marilene, no setor Universitário, que eu fosse vendedor, por causa da mala tipo sacolão do Paraguai que abrigava todos os meus pertences e alguns sonhos escondidos.
Quando cheguei a Goiânia, nesse 21 de fevereiro de 1997, recém-formado, pensava ter escolhido a mais nobre das profissões. Única. Emblemática. Indissociável de mim mesmo. Não havia mais nada a fazer. Apenas espaços a conquistar, andares a subir, de elevador de preferência.
Dez anos depois, após subir e descer escadas – nunca houve a facilidade dos elevadores -, algumas vezes sendo lançado andar acima, outras jogado andar abaixo, sinto-me com uma necessidade premente de recomeçar. Onde? Em quê? Não, isso não sei.
Porque em dez anos tudo acontece. Pessoas, muitas, nascem e morrem. Unem-se, separam-se, amam-se, odeiam-se. Mudam da esquerda para a direita – o contrário nunca acontece. Ficam ricas, ficam pobres. Recomeçam a vida, caem na tristeza profunda que parece ser marca de nossos tempos. Caminhos se cruzam, mudam-se as rotas. Há encontros. Há colisões. Há cirurgias reparadoras. E danos irreparáveis.
Em dez anos deixei muita coisa a fazer. Sempre pro ano que vem, quando sobrar um tempo e um dinheiro. Não aprendi inglês nem violão. Não plantei uma árvore, não comprei o carro que queria. Não segui novos rumos, não interrompi a rota, não reneguei a lógica. Não fiz exercícios nem melhorei essa carcaça cansada. Apenas piorei o espírito.
Estou em permanente tentativa de reconstrução da bússola quebrada. (E você, que caminha a meu lado, talvez seja a única força que me faça continuar tentado.) Haverá tempo ainda? O que escreverei daqui a dez anos? No futuro, não há verbo, não tem pleonasmo.
Foi no dia 20 de fevereiro de 1997, apenas cinco dias depois de minha formatura, com requintes de última rebeldia estudantil, com orador e juramentista desancando o detestável reitor, que eu deixei a rodoviária de Birigui rumo a meus novos caminhos.
Há dez anos atrás, com pleonasmo e tudo, no dia 21 de fevereiro, eu chegava de mala cheia a Goiânia, onde pisara antes uma única vez. No hotel barato, ventilador – que não uso por causa da rinite – e solitária tevê. Solitário hóspede.
Dez anos atrás, quando deixei o hotel, pensaram, no pensionato de dona Fádua e Marilene, no setor Universitário, que eu fosse vendedor, por causa da mala tipo sacolão do Paraguai que abrigava todos os meus pertences e alguns sonhos escondidos.
Quando cheguei a Goiânia, nesse 21 de fevereiro de 1997, recém-formado, pensava ter escolhido a mais nobre das profissões. Única. Emblemática. Indissociável de mim mesmo. Não havia mais nada a fazer. Apenas espaços a conquistar, andares a subir, de elevador de preferência.
Dez anos depois, após subir e descer escadas – nunca houve a facilidade dos elevadores -, algumas vezes sendo lançado andar acima, outras jogado andar abaixo, sinto-me com uma necessidade premente de recomeçar. Onde? Em quê? Não, isso não sei.
Porque em dez anos tudo acontece. Pessoas, muitas, nascem e morrem. Unem-se, separam-se, amam-se, odeiam-se. Mudam da esquerda para a direita – o contrário nunca acontece. Ficam ricas, ficam pobres. Recomeçam a vida, caem na tristeza profunda que parece ser marca de nossos tempos. Caminhos se cruzam, mudam-se as rotas. Há encontros. Há colisões. Há cirurgias reparadoras. E danos irreparáveis.
Em dez anos deixei muita coisa a fazer. Sempre pro ano que vem, quando sobrar um tempo e um dinheiro. Não aprendi inglês nem violão. Não plantei uma árvore, não comprei o carro que queria. Não segui novos rumos, não interrompi a rota, não reneguei a lógica. Não fiz exercícios nem melhorei essa carcaça cansada. Apenas piorei o espírito.
Estou em permanente tentativa de reconstrução da bússola quebrada. (E você, que caminha a meu lado, talvez seja a única força que me faça continuar tentado.) Haverá tempo ainda? O que escreverei daqui a dez anos? No futuro, não há verbo, não tem pleonasmo.
4 comentários:
"Há cirurgias reparadoras. E danos irreparáveis." Minha parte favorita!
Vc escreve pouco, mas quando escreve...
Bjos
Há algo de muito mágico no tempo, algo que não podemos medir...
Adorei a última frase, a sentença segura e fechada. Não há verbo.
Está ótimo esse blog.
Grande abraço!
E claro que ainda da tempo!
Fazia tempo que tambem nao vinha aqui.
Fui embora mas volto ja. Vim sem querer vir e agora volto sem querer voltar. Hoje estou na Italia, que vim aqui passar uma semana. Mas na verdade estou em Londres pra estudar ingles. Um mes foi tao pouco...
E voce, nao desanime.
Beijao!
As vezes a esperança parece não esperar nosso ânimo. Mas no fundo, bem no fundinho, sabemos que tudo depende de nós e ninguém mais. Então, "para o alto e avante, companheiro... Vamos dar uma banana pra todo mundo!!!
Amo-te.
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