Notas, impressões, versões e alguma verdade
R$ 1.108,00. Esse é o valor do piso salarial dos jornalistas em Goiás. Acha pouco? Vendo anúncios de emprego em um blog encontrei ofertas de vagas com o majestoso salário de R$ 800,00 na cidade do Rio de Janeiro. Ou R$ 500,00 reais mais benefícios (oh!) em Santa Catarina.
A comparação mais acertada que vejo do jornalista é com o jogador de futebol: poucos ganham salários altíssimos – os jogadores ganham mais, claro – e a grande massa recebe minguados reais. De quem é a culpa? Das empresas de comunicação? Não, claro que não. Toda empresa quer pagar pouco, então por que as jornalísticas estão entre as que conseguem?
A culpa é do próprio jornalista. É ele que aceita um salário de pouco mais de mil reais se isso significar aparições diárias na tevê. Ou o afago de uma autoridade qualquer por uma matéria em um jornaleco desses que se vendem a governos, qualquer governo.
O grande problema é que o jornalista não se considera integrante de uma categoria. Pensa e age como se fosse um profissional liberal – e olha que mesmo os profissionais liberais têm sindicatos e associações pra defender seus interesses. O jornalista, não: é auto-suficiente.
O resultado é uma categoria absolutamente desmoralizada, desprezada pelas empresas empregadoras e muito mal paga. O sindicato é visto como inimigo ou desnecessário e essa visão apenas reforça a inércia kafkiana com que muitas dessas instituições realmente operam.
A grande verdade é que os jornalistas estão cada vez mais integrando duas categorias: a dos deslumbrados, que crêem não precisar de nada nem ninguém, e a dos espertalhões, que usam de sua profissão pra obter vantagens – algo como aquilo que sempre criticamos nos políticos, sabe? Eu, particularmente, estou na categoria dos decepcionados.
Claro, não se trata aqui de desmerecer a profissão. O que seria do Brasil sem a vigilância da imprensa? Mas temos que tomar muito cuidado com os rumos que estamos tomando. Até porque, todas as profissões, de certa forma, refletem o extrato da sociedade e a sociedade brasileira ainda é filosoficamente estruturada sobre os pilares da Lei de Gerson. Onde há espaço, nossa esperteza se manifesta.
Alguma dúvida? E aquele jeitinho de furar a fila do banco? E fazer seu pedido no balcão da lanchonete antes da pessoa ao seu lado que já estava lá, mas o atendente não viu? E o sinal vermelho solenemente ignorado? E a amistosa conversa com o policial que, de repente, desiste de te aplicar aquela multa? E o telefonema pra autoridade tal, direto do jornal A ou da TV B, pra quebrar aquele galho?, afinal, somos jornalistas...
Somos, ainda, uma sociedade torta. Em evolução, mas torta. O político corrupto nada mais é do que o balconista honesto que não conseguiu se eleger. Basta dar os meios que nós mostraremos nossas garras. E o jornalismo, em menor escala, também proporciona isso. Portanto, colegas, vamos assumir nossa responsabilidade de valorizar a profissão. Todos sabemos quem são os espertalhões, ainda mais agora com essa lambança dos registros precários, que caem, voltam, caem de novo e voltam novamente.
Que tal descermos do salto e assumir que somos profissionais como outros quaisquer?
3 comentários:
idiota
Olha só o nível da argumentação nesse comentário. Ele só confirma o que o seu texto diz. Mas talvez o problema na área de jornalismo não seja apenas o fato de que jornalistas não se consideram uma categoria. Talvez desde que os jornais se tornaram empresas, tenha caído por terra aquela idéia de que a imprensa é o quarto poder, de que ela tem um papel a favor do bem comum. No entanto, nós que ingressamos nas faculdades de jornalismo há alguns anos ainda mantemos uma visão cheia de idealismo e romantismo em relação à profissão. Mas as novas gerações já não pensam assim. São apenas profissionais que servem ao mercado.Desempenham funções quase que puramente técnicas. Já não há qualquer compromisso social.
Minha categoria é a dos muuuito decepcionados. Tanta responsabilidade, tanto sapo, chefe, telespectador/ouvinte aluguel, finais de semana e feriados no trabalho e no final, os mil reais...ai,ai..., não duram um dia no banco.
Aí começa outro mês, mais plantões, mais sapos, feriados sem assunto, personagens que não querem falar, entrevistados chateados com isso ou aquilo, muuuuita produção e de novo: mil reais que desaparecem mais rápido que a Jeanne é um gênio!
Aguentar dois empregos, como disse meu amigo Paulo Galvez um dia, não vai melhorar muito, só vai me deixar mais cansada.
Não posso dizer que não gosto dessa rotina braçal, mas........ ah nem!
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