Catálogo de Erros
Então, um dia eu virei à esquerda. Foi tudo certinho, com seta, redução de marcha... mas alguém buzinou atrás. E alguém está sempre com mais pressa que você, é sempre mais urgente. E é você quem vai ficando pra trás, é você.
Um dia eu pensei, num raro momento de lucidez: se me fosse dada a oportunidade de passar um único reveillon em Estocolmo eu seria a pessoa mais feliz da face da Terra, mais que todo mundo.
Poderia ser em Bali, Komodo, Praga, Paris, Nairobi, Manila, aquele lugar do filme A Praia... desde que fosse um lugar diferente, era isso que eu queria.
Porque um lugar como esse, onde há neve, onde há animais selvagens, onde há um escurecer às três horas da tarde, onde há um cinza perene, onde há um mar verde imenso ou onde há um vermelho de deserto-fim-de-tarde inigualável, esses lugares todos têm uma capacidade milagrosa de fazer a gente descrer da descrença, imaginar que isso só pode ser coisa de outro mundo....
Porque há raros momentos na vida, veja bem, numa vida inteira, em que você tem a capacidade de ficar em contato consigo mesmo, com o Universo à sua volta. Raros momentos de não-lucidez que fazem esquecer o tempo e espaço físicos, o que se diz realidade, pra entrar e viver no seu próprio mundo, no seu mundo interior.
Momentos de sentir o cheiro levemente desagradável do velho rio, que leva em suas águas mansas séculos de história e alguns corpos que ali decidiram se enterrar. Momentos de receber no rosto o vento gelado e espremer os olhos contra aquela claridade gritante. Ou sentir um calor tão vermelho que parece frio.
Talvez sejam eles - Deus, se existir, que me perdoe -, os altistas, os seres mais felizes da Terra. Porque têm seu próprio mundo, não dependem de nada, nem de ilusionistas nem de curandeiros. Tecnocratas, socialistas, anarquistas, nada lhes faz falta.
Apesar do aparente desencanto, acredito que seria delito imperdoável imaginar, sequer por frações de segundos, que não tem, teria, terá valido a pena. Porque você pode viver uma vida inteira de grandes realizações efêmeras, de acordo com suas ambições, como síndico do prédio, artista, presidente, empresário de sucesso, médico invejado, mas nada disso poderia se comparar com um único momento como esse de que falo, que vivemos rara e serenamente, nos dias de frio, cinza e perda de consciência. Nos dias de mar verde sem fim ou de vermelho-deserto-fim-de-tarde.
Ora lagarta, ora borboleta. Desde que livres dessa teia.
Um dia eu pensei, num raro momento de lucidez: se me fosse dada a oportunidade de passar um único reveillon em Estocolmo eu seria a pessoa mais feliz da face da Terra, mais que todo mundo.
Poderia ser em Bali, Komodo, Praga, Paris, Nairobi, Manila, aquele lugar do filme A Praia... desde que fosse um lugar diferente, era isso que eu queria.
Porque um lugar como esse, onde há neve, onde há animais selvagens, onde há um escurecer às três horas da tarde, onde há um cinza perene, onde há um mar verde imenso ou onde há um vermelho de deserto-fim-de-tarde inigualável, esses lugares todos têm uma capacidade milagrosa de fazer a gente descrer da descrença, imaginar que isso só pode ser coisa de outro mundo....
Porque há raros momentos na vida, veja bem, numa vida inteira, em que você tem a capacidade de ficar em contato consigo mesmo, com o Universo à sua volta. Raros momentos de não-lucidez que fazem esquecer o tempo e espaço físicos, o que se diz realidade, pra entrar e viver no seu próprio mundo, no seu mundo interior.
Momentos de sentir o cheiro levemente desagradável do velho rio, que leva em suas águas mansas séculos de história e alguns corpos que ali decidiram se enterrar. Momentos de receber no rosto o vento gelado e espremer os olhos contra aquela claridade gritante. Ou sentir um calor tão vermelho que parece frio.
Talvez sejam eles - Deus, se existir, que me perdoe -, os altistas, os seres mais felizes da Terra. Porque têm seu próprio mundo, não dependem de nada, nem de ilusionistas nem de curandeiros. Tecnocratas, socialistas, anarquistas, nada lhes faz falta.
Apesar do aparente desencanto, acredito que seria delito imperdoável imaginar, sequer por frações de segundos, que não tem, teria, terá valido a pena. Porque você pode viver uma vida inteira de grandes realizações efêmeras, de acordo com suas ambições, como síndico do prédio, artista, presidente, empresário de sucesso, médico invejado, mas nada disso poderia se comparar com um único momento como esse de que falo, que vivemos rara e serenamente, nos dias de frio, cinza e perda de consciência. Nos dias de mar verde sem fim ou de vermelho-deserto-fim-de-tarde.
Ora lagarta, ora borboleta. Desde que livres dessa teia.
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