segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Vendedores

Catálogo de Erros

Jefferson chamou no portão domingo à tarde. Identificou-se como estudante universitário com um crachá onde se lia
Unasp. Disse estar fazendo um trabalho sobre saúde familiar pra universidade e pediu alguns minutos de atenção.

Bem simpático, disparou a falar, como se nos conhecesse há anos. Começou a perguntar sobre nossa saúde, o que fazíamos quando ficávamos doentes, se sabíamos quais as doenças que mais matam no Brasil. Cardíacas, câncer, arrisquei. Pensei também em citar o diabetes, mas estava com preguiça e sem certeza. Pois eram mesmo essas três, nessa ordem, revelou o jovem estudante.

Comecei a estranhar a tal pesquisa ao perceber que Jefferson nada anotava de nossas respostas. Quando abriu, com ar professoral, um livreto com informações coloridas sobre os benefícios de certos alimentos, percebi que lá vinha ele vender algo. Prevenido, logo disse que tinha em casa – mentira - um livro que ensinava a usar os alimentos como prevenção e até mesmo tratamento de problemas de saúde, informação que ele sonoramente ignorou e fingiu não escutar.

E assim foi: o vendedor travestido de estudante retirou da mochila alguns livros e gentilmente disse que seriam nossos se assinássemos a planilha de visitas dele. Ah, é só assinar?, perguntamos, já quase rindo da situação. Bem que eu queria que fosse só assinar e dar o livro pra vocês, revelou. Mas temos um custo de produção. Fica em cinco vezes de 49 reais.

Como era domingo e eu estava mexendo no motor do carro, considerei que já tinha dado atenção demais a Jefferson. Ele ainda insistiu: tinha algumas revistas educativas. Custavam oito reais, mas seriam nossas por qualquer contribuição que quiséssemos dar. Alguns dão mais que oito, apressou-se a dizer.

Obrigado, mas não – sou decidido quando quero. Por último, não satisfeito e depois de dizer que estava se esforçando pra melhorar seu rendimento universitário com as visitas que fazia, com a qual não quisemos contribuir, pediu pra fazer uma oração antes de sair. Desde que desligássemos a tevê.

Falou algumas coisas meio enroladas, das quais só entendíamos as sílabas finais, deixou – dessa vez, de graça – um folheto com o título Sábado, um Dia de Alegria, agradeceu e foi embora sem um tostão, sem olhar pra trás.

Um comentário:

Anônimo disse...

É vero?