Era 1993 ou 1994 e eu estava no início da faculdade em Londrina. Caminhava pela avenida Paranaguá, de casa para a aula de inglês, no início da noite. Vindo em sentido contrário, dois quase adolescentes me param e perguntam as horas. Percebo que há alguma coisa errada e tento correr. Um terceiro rapaz surge não sei de onde e me dá um pontapé. Bato no muro chapiscado e sou rodeado pelos três, com uma arma na cabeça. Um deles grita o tempo todo: atira na cabeça dele, atira na cabeça dele. Não atiram e levam o pouquíssimo dinheiro que eu tinha na carteira – em dias de hoje, dois ou três reais.
Não me lembro se segui pra aula, mas o mais provável é que, assustado, tenha voltado pra casa. Tinha 19 ou 20 anos e o susto logo passou. Dias depois eu voltava a minhas caminhadas pela noite ou madrugada de Londrina, muitas vezes sozinho, voltando pra casa depois do Clube da Esquina ou do bar Valentino. Provavelmente alguns meses depois eu nem me lembrava mais do assalto.
Dez anos depois, em 2003, chego de carro na porta da casa de minha namorada em Goiânia. Passava da meia-noite e permanecemos, irresponsavelmente, um tempo no carro. Um grupo de três ou quatro jovens aparece na esquina. Não dou importância até que eles atravessam a rua e, com uma arma apontada pra mim, pedem carteira, bolsa, celulares e a chave do carro. Agem rápido e partem em disparada – antes, jogam, a nosso pedido, a chave de casa pela janela.
Na mesma madrugada o carro foi encontrado. Os assaltantes não agiram com agressividade, não houve ameaças de tiro. Mas este episódio me persegue até hoje. Só saio a pé na rua à noite na mais absoluta necessidade. O trajeto entre o local onde o carro foi estacionado e o bar ou restaurante é feito quase sempre correndo e com atenção redobrada. Qualquer pessoa que se aproxime, pra mim, é um potencial assaltante ou, pior, assassino. Em casa, agora em Curitiba, mesmo com uma pit-bull no quintal, as portas são sempre trancadas no início da noite. Qualquer barulho assusta.
Não sei o que provocou um comportamento tão diferente em mim, já que foram dois fatos tão parecidos. Talvez os 13 ou 14 anos a mais na idade me aproximem mais da idéia da morte. Talvez esse medo seja apenas mais uma manifestação de um estado de incômodo generalizado em relação à vida que vem me perseguindo há alguns anos. Não sei.
Essa situação me incomoda muito e já pensei em procurar ajuda profissional pra solucioná-la. Mas, depois da pesquisa divulgada pela ONU essa semana, não sei se comemoro por não estar sozinho ou se desanimo de vez. A pesquisa realizada em 35 países revelou que o brasileiro – sete a cada dez - é o que mais tem medo de voltar pra casa à noite por causa da violência. Perdemos para países como Bolívia, Colômbia e Índia. Mudança pra Dinamarca está descartada no momento. O que fazer?
2 comentários:
Lembro bem dessa noite fatídica? Você tem um pit bull agora? Sério? :0
Uma Pit Bull! Eu tenho uma proposta de casamento pra ela: o meu pit bul com alma de vira-lata. Depois mando a foto.
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