Que mira é essa, polícia?
O resultado da repressão à manifestação na capital paulista teve dois jornalistas atingidos no olho com balas de borracha. Um pode ficar cego
Elder Dias
Giulliana Vallone e Sérgio Silva: trabalhadores no exercício da profissão, como os policiais, e atingidos por eles |
No mais culposo dos cenários, se tivesse mirado tão bem não teria acertado assim. A Polícia Militar de São Paulo conseguiu, em um único protesto, nesta quinta-feira (13/6) acertar a visão de dois jornalistas. A repórter da TV Folha, Giuliana Vallone, levou um tiro de bala de borracha no olho direito; o fotógrafo da agência Futura Press Sérgio Silva, no olho esquerdo.
A primeira parece estar bem. Colocou depoimento no Facebook em que diz que já voltou até a enxergar com o olho atingido por um policial que resolveu atirar contra ela, mesmo armada apenas da credencial de jornalista e no exercício da função. Uma profissional totalmente equilibrada, segundo colegas de redação.
Já o fotógrafo corre sério risco de perder a vista, segundo a mulher, também jornalista, Kátia Passos. Ele sofreu lesões oculares e fratura de órbita. Chance mínima de recuperar as funções do olho atingido.
Ambos, ela e ele, trabalhadores no exercício digno e correto de suas profissões atingidos por policiais em exercício bastante contestável de seu dever.
Nada mais simbólico do que tiros nos olhos de jornalistas para passar a mensagem de que querem ocultar o que realmente está ocorrendo. Esqueceram-se (até a própria imprensa estabelecida) de que os olhos que denunciam abusos se multiplicaram com as novas tecnologias e as redes sociais. Está aí circulando aquele vídeo do policial que quebrou o vidro da própria viatura para simular um "vandalismo", para não me deixar mentir.
Que mira é essa, polícia? É a mesma mira obtusa de quem a comanda e só quer enxergar arruaça onde existe, de fato e obviamente, um clamor social de um povo que já não aguenta tanto desmando. Isso é muito maior do que qualquer aumento de tarifa.
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