De A Gralha
Por Dimitri do Valle - Foto: Fran Bubniak |
A força das redes e as lições da cobertura do caso CBN
Dimitri do Valle destaca a cobertura de Dary Júnior e Paulo Galvez, que ajudaram a abrir um caminho sem volta
Dois jornalistas, trabalhando a partir de plataformas como o Facebook
e um blog pessoal, foram decisivos para revelar toda a sujeira do
assédio sofrido pelas estagiárias do jornalismo da CBN Curitiba. É mais
uma prova de que o bom jornalismo depende apenas do bom jornalismo, com a
internet a dar aquele forcinha.
Na última sexta-feira, após o anúncio do próprio José Wille do seu
desligamento do comando do jornalismo da emissora, o jornalista Paulo
Galvez, no seu blog "Terceiro Caderno", trazia detalhes picantes dos
motivos da saída dele. Informava que um comentarista assediador foi o
pivô da demissão de Wille, que havia pedido providências enérgicas à
direção da emissora, mas sem sucesso, restando a ele decidir pela saída
da CBN, após 18 anos de bons serviços prestados.
Nesta segunda-feira, quem tem o jornalista Dary Júnior (foto acima) como colega de Facebook pôde saber em primeira mão o nome do principal suspeito do assédio, o ex-deputado federal e comentarista do programa local da tarde Aírton Cordeiro. Dary decidiu publicar o nome de Cordeiro para preservar outros comentaristas da rádio sem qualquer vínculo com a confusão.
Dary apurou também que o comando nacional da CBN, em São Paulo, não estava gostando nada nada do rumo que o caso havia tomado e cogitava promover uma intervenção na rádio. A partir dessa revelação e de que Cordeiro era o cara, a repercussão nas redes sociais explodiu, tirando do comando administrativo da rádio CBN Curitiba qualquer chance de controlar o destino final do escândalo, ou seja, bater pé e dar as cartas pela permanência de Cordeiro.
O portal noticioso A Gralha, de Curitiba, também se destacou no caso trazendo manchetes críticas sobre o assunto e apuração idem, muito diferente do que se leu nos textos de sites tradicionais.
Ainda ontem pela manhã, uma greve de funcionários foi deflagrada na rádio, comandada pelos apresentadores Marcos Tosi e Álvaro Borba, constrangidos pela decisão da empresa de manter Cordeiro. Borba e Tosi anunciaram, além da paralisação, que não tinham mais clima para ficar na CBN e estavam deixando os cargos. No final da tarde, a boa notícia: Cordeiro foi demitido e eles foram procurados para readmissão, junto com Wille e o comentarista Luiz Geraldo Mazza, o maior jornalista do Estado na ativa e que ficou ao lado do parceiro.
O caso deixa mostras indeléveis de que a internet, sob a lupa da competência, pode ser determinante na defesa da dignidade profissional dos próprios jornalistas e do bem informar. Ainda é tabu na categoria discutir abertamente os problemas que colegas se defrontam no ambiente de trabalho, principalmente na questão do assédio moral ou sexual, que não é só exclusividade de um recinto como o da CBN Curitiba.
Paulo Galvez e Dary Júnior, jornalistas na casa dos 40 anos de idade, de fino caráter e currículo profissional de peso, com passagens por telejornais como o Jornal da Globo, Jornal Nacional e o inovador TJ Brasil de Boris Casoy, mas sem vaga nas redações convencionais de hoje, mostram que a essência do jornalismo, com a catapulta da internet, ainda resume-se ao conteúdo, à experiência e coragem de debater e informar o que é notícia, sem os esperados filtros dos grandes conglomerados de comunicação ou o assédio de editores e chefes a fim apenas de mostrar serviço ao patrão.
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