Não, você não leu errado. A Gazeta do Povo, hoje o principal jornal do Paraná - e que vem fazendo um belo trabalho, responsável e descolado de interesses partidários, como é muito comum na imprensa regional -, abriu espaço, ontem, para um "artigo" estarrecedor, assinado por umas tais Maria Araújo e Cristina Peviani em defesa de um novo golpe militar no Brasil. Sim, você, novamente, não leu errado.
As brilhantes articulistas defendem, por exemplo, "a destituição da presidente Dilma Rousseff e do vice-presidente Michel Temer; a dissolução do Congresso Nacional." Mais: "a dissolução de todos os partidos e organizações integrantes ou apoiadores do Foro de São Paulo; a intervenção em todos os governos estaduais e municipais e seus respectivos legislativos." Em seu devaneio defendem ainda "a intervenção no Supremo Tribunal Federal, no qual a presença de ministros simpáticos aos conspiradores é clara e evidente".
Não há muito o que dizer sobre tamanha estupidez, mas há o que dizer sobre a decisão de se publicar o artigo. Retomo um tema caro a qualquer um que lide com comunicação social: a liberdade de expressão. Recentemente, em debates e conversas com amigos e contatos virtuais, disse que liberdade de expressão não é uma questão absoluta. Referia-me à defesa da justiça por conta própria, em rede nacional, pela apresentadora Raquel Sheherazade, do SBT, que disse achar justificável a população agredir e humilhar um suspeito de roubo - veja bem, "suspeito". Poderia ser eu ou você.
A liberdade de expressão é, sim, um direito inalienável de qualquer cidadão. Desde que ele arque com as consequências do que diz, tem todo o direito de se manifestar em canais pessoais - blogs, sites, redes sociais. Já num veículo de comunicação sério, a coisa muda de figura. Há, por mais que se esperneie, uma coisa chamada responsabilidade social. E, nesse ponto, a liberdade de expressão é relativa, pois um veículo tem o dever de bem informar e não propagar assuntos que, apesar de ter seus adeptos, vai contra o bom senso e o bem estar do cidadão, para dizer o mínimo.
Quem defende a volta da ditadura militar é um completo analfabeto em história, além de esconder, ao que parece, um desejo mórbido pela morte e pela tortura, pois foram essas as maiores contribuições dos militares golpistas de 64. Preço que pagamos até hoje no comportamento de nossas polícias que, incompetentes para investigar, fizeram da tortura a principal estratégia de ação.
Enfim, não deixa de ser importante reconhecer o erro - fruto da vigilância dos leitores em tempos de redes sociais, pois, basta acessar a página do tal artigo para verificar a indignação dos comentários -, mas é preciso cuidado com o conceito de liberdade de expressão. Caso contrário, daqui a pouco vamos ler alguém defendendo as atrocidades de Hitler em nome de um direito constitucional.
PS: O pedido de desculpas da Gazeta está na seção de cartas da edição de hoje e, na versão on line, na mesma página do artigo publicado ontem.
3 comentários:
Muito bom seu texto, Paulo! Essas Lulu´s realmente não têm ideia do que é ficar sem liberdade...
É meu amigo, a situação anda mesmo sem controle e a impressão que dá é que esses reacionários são como zumbis, estão levantando de uma cova que queremos esquecer...Essas Lulu's parecem com as que sentam ao lado de um apresentador famoso de TV para falar de política, um porre!
Dá até medo. Nossa sorte é que, desta vez, a imprensa não vai entrar na onda.
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