Uma análise do Instituto Pólis, realizada em parceria com o LabCidade (Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade), órgão ligado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, sugere que a Covid-19 está se espalhando de forma mais intensa onde os moradores utilizaram transporte público para trabalhar durante a pandemia.
Os pesquisadores correlacionaram bairros de São Paulo, que mais registraram hospitalizações pela Covid-19 ou Síndrome Respiratória Aguda e Grave (SRAG), por causa não identificada, com o local de origem de trabalhadores que utilizam o transporte público como principal meio de locomoção.
A análise mostrou que os territórios com mais internações na cidade (DataSus), estão localizados em regiões que figuram como os principais pontos de origem das viagens diárias (Pesquisa Origem Destino e SPTrans). São exemplos os bairros de Capão Redondo, Jardim Ângela, Brasilândia, Cachoeirinha, Sapopemba, Iguatemi, Cidade Tiradentes, Itaquera e Cidade Ademar.
Para a análise, foram utilizados dados do Datasus de hospitalizações por Covid-19 e por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda e Grave) não identificada a partir do CEP, referentes a março deste ano até 18 de maio, última data em que os códigos postais dos pacientes foram disponibilizados pelo Ministério da Saúde. Essas informações foram balizadas com as de circulação de ônibus municipais do dia 5 de junho, fornecida pela SPTrans, e dados da Pesquisa Origem Destino, feita em 2017 pelo Metrô de São Paulo, que trata sobre as rotas e motivações dos que usam o transporte público na capital.
Foram consideradas pessoas que utilizam o transporte público para trabalhar, que não possuem ensino superior e que ocupam cargos não executivos. Esse perfil foi selecionado porque, em geral, as pessoas com formação superior, em cargos executivos e profissionais liberais, são as que aderiram ao teletrabalho.
“Em síntese, é possível afirmar que quem está sendo mais atingido pela Covid-19 são as pessoas que tiveram que sair para trabalhar. Entretanto, apesar de termos mapeado os locais que concentram os maiores números de origens ou destinos dos fluxos de circulação por transporte coletivo, não é possível ainda afirmar se o contágio ocorreu no percurso do transporte, no local de trabalho ou no local de moradia”, afirmam os pesquisadores.
“Se o maior número de óbitos está nos territórios que tiveram mais pessoas saindo para trabalhar durante o período de isolamento, temos que pensar tanto em políticas que as protejam em seus percursos como ampliar o direito ao isolamento paras as pessoas que não estão envolvidas com serviços essenciais, mas precisam trabalhar para garantir seu sustento”, completam.
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