Nicolau: derrota, multa e censura |
Confira:
"Censura ao TIB: eles querem R$ 100 mil
Ricardo Nicolau, candidato derrotado a prefeito em Manaus, conseguiu
censurar uma matéria do Intercept no último fim de semana graças a
uma decisão de um juiz que possui relações próximas com sua
família. Agora ele quer tirar do ar a segunda reportagem que
publicamos sobre o caso e ainda nos cobrar uma multa de R$ 100 mil
por dia.
No sábado, Nicolau entrou com uma
representação na justiça eleitoral para tirar do ar não
somente este
texto, mas o site inteiro! Abismados com a decisão do juiz
Alexandre Henrique Novaes de Araújo, que falava em “fatos
sabidamente inverídicos” sem apontar que fatos eram esses,
derrubamos a reportagem no domingo pela manhã porque a multa diária
era de R$ 20 mil. Na terça, orientados por nossos advogados,
republicamos a matéria com base no entendimento de que com o fim da
eleição acabava a censura. Publicamos também um texto
em que a repórter Nayara Felizardo explica o que aconteceu e
detalha as relações da família Nicolau com o judiciário
amazonense, em especial com o magistrado que tão prontamente atendeu
ao pedido do então candidato.
Ontem fomos
novamente surpreendidos com outro pedido feito por Nicolau à Justiça
Eleitoral. Mesmo derrotado na eleição, ele ainda quer ver nosso
texto fora do ar e nos prejudicar financeiramente. No novo pedido, o
ex-candidato solicita a retirada do ar da segunda reportagem e
pede uma multa diária de R$ 100 mil. Pede também o pagamento de
outros R$ 20 mil como punição pela suposta desobediência à ordem
judicial, que não aconteceu.
É assim que agem os
poderosos deste país diante do jornalismo independente. A reportagem
de Nayara é correta do início ao fim. Baseada em ampla documentação
e cuidadoso trabalho de apuração. Pelo menos 7 profissionais se
envolveram na produção da matéria: além da repórter, editores,
advogados. Os pedidos de Ricardo Nicolau não apontam um único
equívoco no texto e ainda assim, fomos obrigados a tirá-la do ar no
domingo.
Se as exigências feitas por ele
forem acatadas será um triste marco no desrespeito à liberdade de
imprensa. Alguns colegas já se manifestaram diante desse horror. O
jornalista Reinaldo Azevedo escreveu sobre o caso, que chamou
de “surrealista”. A Abraji
atentou para um fato: Letícia Kleim, assessora jurídica da
entidade dos jornalistas investigativos, avalia que as semelhanças
entre as quatro petições feitas pela coligação “podem indicar
uma tentativa de controlar a livre distribuição dos processos”. O
Conjur foi
na mesma linha: “Merecem ser investigadas as suspeitas de
fraude à livre distribuição, diante do ajuizamento de quatro ações
sucessivas e com o mesmo objeto, até que ocorresse a distribuição
ao juiz que proferiu essa inusitada decisão".
Por Paula Bianchi, The Intercept Brasil"
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