quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Em vídeo de apelo por assinantes, Gazeta do Povo defende estar "do lado da maioria", contra ideias "profundamente equivocadas"

Neobolsonarista, Cristina Graeml defende radicalismo da Gazeta
Em vídeo melodramático publicado em seu canal no You Tube, o site Gazeta do Povo faz um apelo pela sobrevivência, implora por novos assinantes, ataca grupos progressistas e critica jornalistas de todo o Brasil. Apresentado pela neobolsonarista Cristina Graeml, ex-repórter da RPC/Globo, também colunista do site, o vídeo traz os depoimentos dos irmãos proprietários do veículo, Ana Amelia Filizola (diretora) e Guilherme Cunha Pereira (presidente executivo).

Em tom de apelo às "pessoas de bem", no vídeo, de 26 minutos e oito segundos, há posicionamentos como: "são muito poucos (jornalistas) que têm as convicções que me parecem ser as convicções de boa parte dos brasileiros", de Cunha Pereira, ao dizer que a maioria dos jornalistas vive em um mundo à parte. O argumento petulante e embasado, obviamente, apenas em opinião própria foi usado para defender a decisão da Gazeta de se alinhar ideologicamente ao bolsonarismo.

Cunha Pereira também afirma que, quem defende ideias "profundamente equivocadas" - mais uma vez, colocando sua opinião como verdade -, nem sempre são más pessoas, apenas ignorantes. "A Gazeta do Povo não quer julgar as intenções daqueles que defendem o que consideramos serem barbaridades". Isso mesmo, ao defender seu direito a ter um jornalismo tendencioso, contraditoriamente, os donos do site dizem que os que discordam de sua linha falam "barbaridades". 

"O respeito e a cordialidade são ingredientes essenciais do jornalismo e de todos aqueles que querem unir as pessoas em torno das boas causas e das boas ideias", continua Filizola. Foi ela quem assinou uma carta defendendo a permanência de Rodrigo Constantino na Gazeta, após ele dizer que, se sua filha fosse estuprada em "uma festinha com homens e bebidas" a colocaria de castigo e não denunciaria o agressor. 

A Gazeta, em uníssono com a trupe de Jair Bolsonaro e outros radicais, também ataca as universidades brasileiras e pensadores. "(...) algumas ideias que se tornaram comuns nas universidades, entre artistas e intelectuais e em muitos outros ambientes, (mostram) a força da crise de valores que afeta nossa sociedade", diz Graeml.

Após outros lugares-comuns, como a defesa da tradicional família brasileira, ausência do estado na vida do cidadão e a defesa da liberdade de expressão contra o politicamente correto, vieram os apelos. "Eu gosto de pensar que nossos leitores e assinantes são sempre nossos amigos", diz Filizola.

A Gazeta ainda mentiu ao afirmar que, o que chamam de milícia digital, especificamente o Sleeping Giants, seja anônimo. Afinal, todos sabem hoje, após publicação na imprensa nacional e revelação em seus próprios perfis, que "o grupo barulhento" e antidemocrático criticado pelo site nada mais é do que um casal de estudantes de Ponta Grossa, ali pertinho de Curitiba. O Sleeping Giants alerta empresas a deixar de anunciar em veículos que propagam ódio e fake news - como é o caso de Constantino na Gazeta.

(Em trecho inserido posteriormente à gravação dos depoimentos, Graeml, em off, ou seja, apenas áudio, admite que o grupo não é mais anônimo).

Os últimos sete minutos do vídeo são usados para apelar por assinantes, sob pena de se "calar a voz da Gazeta". Talvez, atribuindo-se uma importância maior do que a real: "você pode contribuir de uma maneira extraordinária para o bem do país", acredita Cunha Pereira. Vale lembrar que as dificuldades da Gazeta aumentaram justamente quando a direção decidiu abandonar a tradicional edição local impressa e apostar em um jornalismo ideológico nacional, claramente sem ter pernas para isso.

Com a palavra, o leitor.

P.S.

É importante deixar claro aqui ainda que, ao contrário do que diz a direção da Gazeta - não sua redação, que já se manifestou contrária à permanência de Constantino -, ninguém quer o fechamento do veículo. Seria até desumano pensar isso. O que se defende é que apenas um colunista misógino, que minimiza o racismo, que agride feministas chamando de "mocreias e vadias" deixe de ter espaço no site. 

Não minta, Gazeta.

Se você quiser assistir ao vídeo, basta clicar aqui.

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