Itaú e Nubank estão entre os piores bancos brasileiros em relação à preocupação com o bem-estar animal e com sistemas alimentares sustentáveis. É o que revela o relatório “Além do lucro: Revisão Global de Instituições Financeiras em Bem-estar Animal e Sistemas Alimentares”, divulgado pela organização internacional Sinergia Animal, na última segunda-feira. O estudo, que apresenta a questão "Seu banco está financiando a crueldade animal com o seu dinheiro?", fornece uma análise abrangente de 80 instituições financeiras em 22 países, expondo uma defasagem significativa do setor financeiro com relação ao tema.
A avaliação global destaca uma tendência preocupante: apenas 10% das instituições financeiras possuem políticas para desinvestir em práticas que causam sofrimento animal ou para financiar alternativas à base de vegetais, sendo que 53% das instituições avaliadas receberam pontuação zero. Apesar de alguns progressos, com 11 bancos melhorando as suas políticas em comparação a 2023, instituições renomadas como Goldman Sachs e ICBC regrediram em seus compromissos anteriores.
“Atualmente, o nosso mundo enfrenta desafios sem precedentes: a crise climática, os riscos para a saúde pública e o aumento da insegurança alimentar exigem uma ação imediata de todos os setores. Avaliamos o desempenho dos bancos nessas áreas, a partir 21 critérios — desde políticas que proíbem o financiamento das práticas mais cruéis com os animais na pecuária a outras atividades prejudiciais, como o comércio de animais silvestres, testes em animais e o uso indiscriminado de antibióticos. Também levamos em consideração políticas voltadas a sistemas alimentares sustentáveis”, explica Merel van der Mark, que lidera o programa de Bem-Estar Animal e Finanças da Sinergia Animal.
No Brasil, os bancos com maior pontuação foram BTG Pactual com 12% e Impact Bank com 10%. Já no cenário internacional, os bancos Triodos, de Volksbank, Australian Ethical, Rabobank e ABN Amro mantiveram a sua liderança como os cinco bancos com as melhores políticas de bem-estar animal e sistemas alimentares sustentáveis.
O relatório revela que a maioria das instituições financeiras está atrasada com relação aos apelos globais pelo combate à crise climática, pela proteção dos animais e pela transformação dos sistemas alimentares — recentemente ecoados em declarações de importantes órgãos internacionais.
A Assembleia Geral das Nações Unidas, por exemplo, pediu maior ambição em reforçar a saúde e o bem-estar animal, como um fator significativo para se alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Além disso, a COP28 emitiu uma declaração priorizando sistemas alimentares resilientes e o combate à crise climática. A OCDE atualizou suas diretrizes para incluir provisões para o bem-estar animal e a Organização Mundial de Saúde fez um apelo para que se adotem dietas mais saudáveis, diversificadas e baseadas em vegetais.
“Os bancos têm o poder e a responsabilidade de promover um futuro onde o bem-estar animal, a saúde humana e o combate às mudanças climáticas integrem as práticas econômicas. Este relatório é um alerta para que o setor financeiro priorize a sustentabilidade a longo prazo ao invés de lucros a curto prazo, valorizando o bem-estar animal e promovendo sistemas alimentares mais sustentáveis”, afirma Van Der Mark.
Nubank e Itaú foram contatados, mas não enviaram manifestação até a publicação desta matéria. O espaço permanece aberto e será atualizado caso isso ocorra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário