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O cliente gordo e solitário dividia a coxa de frango frito de ontem com o cachorro de hoje. Parecia que ele morava lá, naquela praça que abriga o Segunda Opção. O cachorro.
Muita lascívia na mesa em frente, uma morena de cabelos artificialmente ruivos e shorts curtíssimos. Se atirava sobre o rapaz de camiseta cavada vermelha. "Toma uma atitude, rapaz!".
Três mulheres e duas crianças ali. A mamadeira dividindo espaço na mesa com os copos de cerveja. Terão essa imagem pra sempre, como eu sempre me lembro de meu pai pedindo aquele conhaque comigo no colo?
Quanto movimento nessa tarde. A revolta, revolução do oprimido pelas forças do dia a dia na mesa do bar nessa hora. O malandro, o maconheiro, as mães desempregadas com os filhos, os caras do plantão noturno... Augusto, o dono, quase não dá conta de repor, mesa a mesa, a cerveja barata.
Ele corre de um lado a outro, alheio à barata de Kafka. Anota, cobra, serve uma coxa de frango e uma toscana.
Há uma questão filosófica na mesa de sinuca: se eu mato, eu vivo. Devo?
O rapaz obeso insiste pra que o cãozinho fique por perto. "Sabe-se lá o que pensa essa gente?" O caramelo resiste ao carinho temporão.
As meninas continuam jogando damas com tampas de garrafas. Poderiam ajudar tantos animaizinhos...
A tarde cai e a presença de gente em plena segunda-feira mostra que a revolta contra tudo isso aí é legítima e pulsante.
Na mesa de sinuca permanece o dilema: se eu não mato, eu morro. Devo?
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