Trabalhei próximo a Valério Luiz em meu início de carreira, na TV Brasil Central (TBC), no final dos anos 1990. Eu, no jornalismo, ele, no esporte. Nunca fui seu amigo próximo, mas não me esqueço das referências, sempre elogiosas, dos colegas cinegrafistas em relação a ele. "O Valério nem precisava escrever o off (texto que se ouve nas reportagens televisivas), gravava direto, de cabeça", diziam, diante de minha demora de novato ao redigir a reportagem.
Pois bem, no próximo dia 14 de março pode ser que uma injustiça de quase uma década seja corrigida: o
Plenário do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) será palco do
júri popular que decidirá sobre o futuro dos réus acusados pelo
assassinato de Valério Luiz, morto covardemente em 5 de julho de 2012,
com cinco tiros, ao sair da rádio em que trabalhava. Radialista e
jornalista esportivo, Valério era conhecido por seus comentários
críticos e diretos.
Leia também:
Segundo
o inquérito policial, a sua atuação como jornalista foi o que
motivou o crime, que envolveu cinco pessoas, entre elas, o cabo da
Polícia Militar Ademar
Figueiredo Aguiar
Filho, o sargento reformado da Polícia Militar Djalma Gomes da
Silva, Urbano de Carvalho Malta, Marcos Vinícius Pereira Xavier e
Maurício Borges Sampaio (ex-cartorário e ex-presidente do Atlético
Clube Goianiense, clube do qual Valério era torcedor e principal
alvo de seus comentários na rádio em que trabalhava).
Conforme
aponta o filho do radialista e assistente da acusação, Valério
Luiz Filho, o atrito entre o comunicador e Maurício
Sampaio vinha de longa data.
Durante os
nove anos em que o crime restou sem resolução, o
ex-dirigente buscou meios de
atrasar o julgamento e de impedir que o caso de homicídio fosse
levado a Júri Popular - tentativa que felizmente não prosperou,
afirma.
Ainda assim, o Júri foi adiado por diversas vezes sob diferentes
justificativas - a exemplo do adiamento, em 2019, a partir da
alegação do juiz responsável de que não haveria estrutura para
comportar julgamento de tamanha repercussão no Foro correspondente.
Desde 2020, a pandemia de covid-19
veio protelando ainda mais a realização do julgamento, uma vez
tendo sido determinado o adiamento de Júris pelo Conselho Nacional
de Justiça.
Denise
Dora, diretora-executiva da ARTIGO 19, organização que atua pela
defesa e promoção do direito à liberdade de expressão e que
acompanha o caso desde o início, espera que o julgamento contribua
para o avanço na busca por justiça. Para Denise, uma absolvição,
neste caso, seria uma medida que reforçaria ainda mais o cenário de
impunidade nos crimes contra comunicadores no país e evidenciaria a
insegurança dos profissionais da comunicação.
Todos esperamos justiça para Valério.