Qual o compromisso dessa gente com o destino das instituições que são indicados a comandar?
Não se sabe ainda se estamos diante de uma opinião representativa, mas o fato é que, no mínimo, a declaração revela o tipo de política que os tomadores de decisão do atual governo contemplam. Que ousadia! Que irresponsabilidade!
O quadro de deterioração da economia brasileira não poderia ser mais transparente, incontroverso. Quaisquer que fossem os erros das políticas econômicas até 2014, e eles existiram e foram graves, a alucinada austeridade que se iniciou em 2015 como resposta — e se manteve desde então —, provou ser completamente equivocada. Completamos cinco anos de política de austeridade, incluindo nisso o contínuo desaparelhamento e encolhimento do BNDES. Começando com a extinção da taxa de juros incentivada do Banco (a TJLP), passando pelas devoluções de aportes do Tesouro e agora pela destruição da BNDESPar. Os resultados estão aí: a maior crise da história do país (a recuperação mais lenta depois de uma crise econômica); o quarto ano em que a taxa de investimento fica abaixo de 16%; encolhimento da indústria e desemprego. Tudo isso não tem precedente na nossa história.
Diferentemente da Grécia, o Brasil não está numa crise por imposição de pressão externa. Não há crise da dívida ou, por enquanto, problema no Balanço de Pagamentos. É uma crise autoinfligida. Querem melhorar a métrica dívida/PIB, reduzindo o numerador às custas da redução do denominador. Persegue-se o próprio rabo.
Manter a política de desmonte do BNDES significa aprisionar todos nós nesta trajetória sombria. Não é possível que em algum momento não se perceba que a atual política fracassou. Temos que manter a possibilidade aberta a uma alternativa, a um novo caminho. Que caminho poderia ser esse? O da retomada dos investimentos, da recuperação da indústria, dos investimentos em infraestrutura públicos ou privados. Para tudo isso será fundamental contar com um Banco de Desenvolvimento vigoroso. Por sorte temos um. Não podemos deixar que acabem com ele.
Por Arthur Koblitz, presidente da Associação dos Funcionários do
BNDES (AFBNDES)