Tenho tentado tranquilizar amigos, com o pouco de conhecimento que minha pós-graduação em Negociações Internacionais me proporcionou - gosto de citar não por pedantismo, mas para deixar claro que estudo o assunto - sobre a impossibilidade de um golpe de estado no Brasil, tema que provoca suspiros e reviradas de olhos do lunático que levaram à presidência do país.
Meus argumentos são mais focados no mercado e na política internacionais. Me parece óbvio que a aventura desejada por Jairs, milicianos e outros adoradores de cassetetes não se sustentaria internacionalmente.
Mas convido a todos a ler o artigo abaixo, que detalhou com muito mais propriedade, além das questões mundiais, os por quês domésticos que levariam tal aventura ao pior cenário possível - e a um período muito breve de duração.
Acalmem-se. Apologistas da ditadura são, no máximo, bobos.
Por
que não haverá um golpe de Estado no Brasil?
*Por
Igor Macedo de Lucena
Em
poucas semanas a inflação chegaria a galope e o Governo Federal
seria forçado a adotar o ‘antigo remédio’ da indexação e da
correção monetária, jogando-nos em um abismo de difícil volta e
enterrando de vez o plano real e o tripé macroeconômico.
Voltaríamos à década de 1970, tudo por causa de pessoas que não
têm o mínimo apreço pela democracia e bajulam os autocratas, à
esquerda ou à direita.
Muitas das nossas exportações seriam boicotadas por causa do
golpe de Estado ou mesmo por haver apenas um pretexto protecionista.
Não importa a causa, isso derrubaria nossa balança comercial e nos
jogaria ao longo de meses em uma nova crise cambial, forçando a
desvalorização da moeda para fechar a balança comercial, o que
resultaria em mais inflação.
Em poucos meses o índice de pobreza extrema chegaria aos dois
dígitos, e a massa de desempregados estaria marchando nas ruas.
Estudantes e a classe média se juntariam por meio das redes sociais,
e o Governo assistiria incrédulo às capitais sendo tomadas por
pessoas que viram sua vida ser destruída em prol de algo que
fatalmente seria um desastre.
Em poucas semanas, as revoltas internas tomariam corpo, ganhariam
visibilidade internacional e seriam apoiadas pelas maiores
democracias do planeta, causando não apenas a queda dos líderes do
Governo, mas também a prisão de seus principais artífices.
Não, amigos! Em um Brasil interconectado globalmente, membro do
G20 e maior economia de mercado da América Latina, não há espaço
para a manutenção de golpes de Estado ou governos ilegítimos. Essa
seria uma aventura com pouco prazo de validade e dificilmente iríamos
nos recompor na mesma década. Escrevo este texto com o intuito de
mostrar como a dominância econômica se impõe sobre a política,
seja ela democrática ou não, e como o nosso Brasil não aguentaria
um novo golpe de Estado.
Em minha opinião, aqueles que idolatram o regime militar ou o
governo de Cuba, e pensam em adotar ideias semelhantes para o Brasil
do século XXI, não têm espaço no pensamento democrático de hoje
e só contribuem para o caos e a desinformação.
*Igor Macedo de Lucena é economista e empresário, Doutorando
em Relações Internacionais na Universidade de Lisboa, membro da
Chatham House – The Royal Institute of International Affairs e da
Associação Portuguesa de Ciência Política