Veículo que reclama de perseguição demitiu colunista líder de audiência por ser considerado de esquerda, após pressão de leitores extremistas
Apesar
da matéria apócrifa publicada pela Gazeta do Povo acusando os
que pedem a interrupção da publicação da coluna de Rodrigo
Constantino no site paranaense de “milicianos digitais”, os
anunciantes não se convenceram. Dia a dia um novo patrocinador
atende aos apelos, capitaneados pelo Sleeping Giantes Brasil, e
decidem não associar sua marca a conteúdos que disseminam o ódio e
fake news. A própria Gazeta diz que
pelo menos 13 patrocinadores
deixaram de exibir suas propagandas no site.
Ao contrário do que
tenta fazer parecer o site, ninguém está desejando o fechamento da
Gazeta. O pedido é para que eles sigam o exemplo de outros quatro
veículos que dispensaram Constantino após ele culpabilizar algumas
vítimas por seu próprio estupro, ao comentar a repercussão do caso
Mariana Ferrer.
Para a Gazeta, as
explicações do Constantino, que também disse que não denunciaria
estupradores caso a situação da mulher – como estar bêbada ou
participando de festas com homens – induzisse ao crime e que chamou
feministas de “vadias” são suficientes para “esclarecer o mal entendido”.
Interessante relembrar
que, ao demitir um de seus principais colunistas, no ano passado, a
pedido de leitores de direita extremistas, Rogério Galindo, por ser
considerado uma voz de esquerda dentro da publicação, a Gazeta não
se referiu a essa pressão como perseguição à liberdade de
expressão ou mesmo resultado de uma milícia digital, o que revela o caráter
dual com que o site analisa as manifestações que recebe.
O fato é que os
patrocinadores não se deixaram levar pela vitimização da diretoria
da Gazeta. A empresa de cosméticos sustentáveis The Body Shop, por
exemplo, respondeu assim ao aviso do Sleeping Giants: “(…) o
anúncio no site Gazeta do Povo foi bloqueado no momento em que vocês
nos notificaram. (…) Apoiamos o movimento e bloqueamos sempre que
encontramos sites que propagam fake news e discursos de ódio”.
A marca de camisetas
Reserva também se posicionou: “Estamos passando para avisar que
nos reunimos com o time e fizemos uma varredura para saber se
tínhamos algum anúncio no jornal Gazeta do Povo ou em qualquer meio
de comunicação que apoiasse, mesmo que indiretamente, a Cultura do
Estupro e retiramos imediatamente. (…) Vocês poderiam divulgar o
nosso posicionamento? Queremos que todos saibam que o nosso
posicionamento está alinhado com nossa missão de cuidar das
pessoas!”.
A gigante Alegra Foods
seguiu no mesmo caminho: “Repudiamos qualquer discurso de ódio. Já
estamos suspendendo os anúncios no site apontado. Muito obrigada por
nos alertar.”
Ao insistir em ir contra o bom senso e a favor da disseminação de informações falsas e opiniões que colocam em risco a saúde de milhões de pessoas, como as críticas ao distanciamento social, ao uso de máscaras e à minimização da pandemia de Covid-19, explicitamente defendidas por Constantino, a Gazeta decidiu se aliar a seus sectários leitores. Resta saber se conseguirão sobreviver e, um dia, recuperar a credibilidade.
Em tempo
Deixo explícita, aqui, minha solidariedade aos 120 funcionários da Gazeta, alguns ex-colegas de trabalho, que, arriscando seus empregos, assinaram uma carta de repúdio à permanência de Constantino no site.