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quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Aventura de Silvio Santos para agradar Bolsonaro levou o caos ao SBT

livia andrade é demitida por silvio santos
Nem Livia Andrade escapou (Reprodução)
Do jornalismo ao entretenimento, as últimas semanas têm sido de perdas irreparáveis para o SBT. As demissões dos maiores nomes da emissora revelam uma crise sem fim, desde que Silvio Santos decidiu exibir a Copa Libertadores para provocar a Globo, que não aceitou pagar o preço cobrado pela Conmebol. Para impor mais uma derrota à rival e desafeto de Bolsonaro, Silvio sacrificou praticamente toda a programação de sua TV para abocanhar a competição esportiva, mesmo sem nenhuma tradição no futebol.

O resultado não poderia ser outro. A Libertadores não empolgou, os patrocinadores não vieram, e a onda de demissões, não tão raras no SBT, parece não acabar.

Hoje foi a vez do humorista Carlinhos Aguiar. Mas nomes de muito mais peso também deixaram, nos últimos dias, a "TV Mais Feliz do Brasil". Entre eles, os jornalistas Roberto Cabrini e Raquel Sheherazade,  os apresentadores Lívia Andrade, Leão Lobo e Mamma Bruscheta, além da talentosa atriz Larissa Manoela. A xodó da casa, Maisa, também saiu e até o programa da filha do patrão, Patrícia Abravanel, foi suspenso.

Os cortes são resultado do desembolso de 60 milhões de dólares (quase R$ 320 milhões) pelos direitos de transmissão da Libertadores, algo que nem a Globo quis pagar. E tudo por conta da briga de Bolsonaro com a emissora dos Marinho - a medida provisória do direito do mandante é outro capítulo do ataque do governo à Globo.

O problema é que, apesar do desejo de Bolsonaro de impulsionar o SBT, Record e Rede TV, emissoras explicitamente pró-governo, há o limite legal, a chamada mídia técnica, que obriga o poder público a, quando anunciar, direcionar o dinheiro do contribuinte de acordo com a audiência e não com a vontade do gestor, regra criada justamente para impedir o que Bolsonaro gostaria de fazer. Vale lembrar ainda que o presidente do "tem que mudar isso aí, talkey?" nomeou o genro de Silvio, deputado federal Fabio Faria (PSD), como ministro das comunicações.

raquel sheherazade ameaçada por bolsonaristas
Raquel Sheherazade, bolsonarista até o ano passado, sofreu ameaças após criticar o governo (Reprodução)

Histórico governista

Não é de hoje o apreço de Silvio Santos pela bajulação a governos. Durante os últimos anos da Ditadura Militar Brasileira, o SBT exibia insistentemente, narrada pelo vozeirão de Lombardi, a "Semana do Presidente", mostrando as "realizações" do governo ditatorial durante sua programação. Com a rusga de Bolsonaro com a Globo, ficou ainda mais fácil.

É muito claro que se trata de uma estratégia fadada ao fracasso. As emissoras governistas até podem se beneficiar com o lobby do governo para que empresas aliadas anunciem nas queridinhas. Mas, hoje, a reputação dos veículos de comunicação é diariamente questionada nas mídias sociais. E, engana-se quem pensa que atitudes como essas serão esquecidas.

A Globo, por exemplo, até hoje paga o preço pelo apoio à Ditadura e à defesa de Collor durante as eleições de 1989. Vive se explicando. Em uma era em que os canais de comunicação se multiplicam e muitos "influencers" têm mais audiência do que emissoras estruturadas e consagradas, vai ser difícil se recuperar quando a onda de fanatismo bolsonarista passar.

E ela vai passar.