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domingo, 31 de maio de 2020

O que o Vakinha vai fazer com os R$ 77 mil arrecadados por grupo armado bolsonarista?

O grupo de extrema direita paramilitar armado que acampa em Brasília em apoio a Bolsonaro, o 300 pelo Brasil, arrecadou R$ 77 mil reais no site de financiamento coletivo Vakinha. Após questionamentos de uma pequena parte da imprensa, mas, provavelmente, muitos brasileiros perplexos com o financiamento de um grupo que admite publicamente a prática de crime - não é permitido o porte de armas nas ruas -, a campanha foi retirada do ar. O anúncio foi feito no perfil do Vakinha no Twitter. 


O que não se sabe, porém, é o que vai ser feito com o dinheiro arrecadado. Será destinado aos criminosos ou devolvido aos financiadores? Leandro Demori, editor executivo do The Intercept Brasil, em newsletter enviada a leitores, chama a atenção para um fato que merece análise: "O ticket médio dos doadores ao grupo era estranhamente alto: quase R$ 100 por pessoa". Eu, que já participei de inúmeras campanhas de financiamento coletivo em outras plataformas, concordo. As doações costumam ser, em esmagadora maioria, bem menores do que R$ 100 reais. Isso pode indicar que não são doadores comuns os tais financiadores... caso de polícia.

Demori relata a conversa que teve com o diretor de relacionamento do Vakinha, Flavio Steffens. Em troca de mensagens privadas, Steffens reclamou de seu e-mail particular ter sido exposto publicamente em tuíte do jornalista. Os pedidos de explicação devem ter sido muitos. Mas, como bem lembra Demori, o e-mail é público e pode ser consultado por qualquer pessoa no perfil do empresário no Linkedin.

Também enviei um pedido de explicação para Steffens, por e-mail, e aguardo resposta, que será publicada aqui, caso ela chegue. No Twitter, o Vakinha se calou sobre o destino do dinheiro. O empresário Luiz Felipe Gheller, fundador do site, bloqueou o acesso a seu perfil. Será que o valor vai ser - ou já foi - repassado ao grupo chamado de "milícia" pelo Ministério Público do Distrito Federal? Aguardamos.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Barrado no Roda Viva com Moro, Intercept comenta ao vivo entrevista do ministro à TV Cultura

Não valeu o apelo de milhões de pessoas no Twitter: o Roda Viva com o ministro da Justiça Sergio Moro não terá na bancada nenhum jornalista crítico ao auxiliar de Bolsonaro. Por isso, durante o programa, a partir das 22 horas de hoje, a equipe do The Intercept Brasil fará uma live no You Tube para comentar em tempo real a entrevista. Abaixo, segue o texto do editor Leandro Demori sobre o assunto:


"Moro aprovou jornalistas do Roda Viva

Sergio Moro estará no Roda Viva na próxima segunda. Ele aprovou os nomes dos jornalistas que estarão na bancada para entrevistá-lo, nós confirmamos com fontes. Não me espanta: Moro não sentaria em um canal ao vivo por duas horas sem saber quem estaria na sua frente. Ele, assim como Bolsonaro, vê parte da imprensa como inimiga. Logo ele, que tanto usou a imprensa para seu projeto de poder. Pra Moro, jornalista só serve se escreve notícias de joelhos.

Imagine o ex-juiz chegar lá e dar de cara com um dos dezenas de jornalistas que trabalharam e trabalham nos arquivos da Vaza Jato? Nessa hora não dá nem tempo de chamar o Deltan. Moro se preveniu.

Na semana que acaba hoje, o programa foi forçado a se manifestar sobre a ausência do TIB na bancada – o público levou ao topo do Twitter a tag #InterceptNoRodaViva. Eu compreenderia um veto de Moro aos nossos nomes, mas o programa negou a interferência editorial do ministro: “Não pedimos sugestões nem submetemos a bancada ao entrevistado.” Então se não pedem sugestões e nem submetem a lista aos convidados, a formação da bancada sem nenhum dos vários jornalistas de vários veículos que participaram da Vaza Jato foi escolha deliberada do programa. Nessa versão dos fatos, Moro tem tanta confiança de que não precisará nos encarar que sequer precisa conhecer a lista. Vocês decidam o que é pior.

A campanha #InterceptNoRodaViva incomodou algumas pessoas. O Marcelo Tas (lembram dele?) mais uma vez atacou nossos jornalistas. Ele já tinha metido os pés pelas mãos antes. Com 9,5 milhões de seguidores e engajamento pífio digno de 9,5 milhões de robôs, Tas usa o TIB pra ter relevância no Twitter de tempos em tempos. Eu fico feliz que o TIB ajude o Marcelo Tas a ter relevância no Twitter uma vez por trimestre. Assim ele pode vender mais cursos sobre como ser relevante no Twitter. Geramos empregos! Vamos em frente!

O jornalista Pedro Doria entrou na onda: retuitou sem checar o ex-apresentador, e comentou: “Estou tentando lembrar quando foi a última vez que um veículo exigiu participar e moveu uma campanha para isso. E não consigo lembrar.” Pedro: você não consegue lembrar porque nunca existiu. A campanha partiu do público. Uma hora te mostro como pesquisar no Twitter (é fácil, prometo).

Os dois são exemplos de pessoas que não suportam que exista crítica de mídia no Brasil, porque eventualmente ela atingirá amigos e até a eles próprios (imagina se trabalhassem aqui no TIB, um dos veículos mais criticados do país...).

Na Itália, onde morei, é comum, até porque parte importante da TV é pública por lá (ei: a TV Cultura é pública também). Nos EUA nem se fala. Imaginem um programa onde o entrevistado fosse o já falecido Richard Nixon. Quem não gostaria de ver na bancada Bob Woodward e Carl Bernstein, jornalistas do caso Watergate, que derrubou Nixon? Quem se incomodaria em ver o público pedindo a participação dos dois? No Brasil, tem gente que sim.

Mas já que o público pediu que um site fosse convidado pela TV pública para questionar um personagem público sobre temas de interesse público e não foi atendido, então vamos lá: na segunda-feira, no mesmo horário do Roda Viva (22h30), nós estaremos ao vivo no nosso canal do youtube.

Assine agora e ative o sininho pra não perder.

Vamos, basicamente, assistir ao programa com vocês, como vizinhos vendo TV na calçada. Mais ou menos como o Bolsonaro assistindo ao Trump, mas sem babar de amor. Esperamos vocês!"

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Compre um juiz por R$ 750

Por Nayara Felizardo
The Intercept Brasil

Publicamos hoje mais uma história exclusiva sobre a corrupção no judiciário brasileiro. Depois de uma longa investigação encontramos 21 casos em que juízes e desembargadores foram investigados pelo CNJ, o Conselho Nacional de Justiça, por venda de sentenças. Os valores de uma decisão judicial no Brasil podem variar de R$ 750 a R$ 400 mil. E qual a punição para esse crime? Aposentadoria com salário.

Uma das histórias que contamos aconteceu em São Francisco do Conde, na região metropolitana de Salvador. Um desembargador cobrou  R$ 400 mil para livrar um político de uma acusação de corrupção. Já em Xinguara, no Pará, um habeas corpus para um acusado de assassinato sai por R$ 70 mil. O mercado de sentenças tem produtos que cabem em todos os bolsos. No interior do Rio Grande do Norte descobrimos que uma liminar custa a partir de R$ 750.

Um magistrado que cobra menos que um salário mínimo por uma liminar recebe como punição do CNJ sua aposentadoria compulsória e ela é bem gorda. Em média, magistrados condenados pelo Conselho por venda de sentenças recebem R$ 32 mil por mês de aposentadoria.

Dos 21 magistrados investigados por venda de sentença que descobrimos, 11 foram obrigados a se aposentar. Isso mesmo, juízes e desembargadores continuam sustentados com nosso dinheiro pelo resto da vida.

Por que é assim? Ora, são os magistrados que fazem as regras e que definem suas próprias punições. Como isso acontece, você lê aqui com exclusividade.

Agora imagine um cenário em que o Intercept Brasil não existe. Quem vai denunciar o judiciário e dar nome aos bois? Quantas práticas ilegais e injustas permaneceriam ocultas sem o trabalho dos nossos repórteres? Pois é, só podemos fazer investigações como essa porque não temos rabo preso com ninguém.

domingo, 7 de julho de 2019

Vaza Jato sabe de qual celular partiram as mensagens que incriminam Moro e procuradores

Já se tornou padrão entre membros da Lava Jato e o ex-juiz Sergio Moro desqualificar as gravíssimas denúncias reveladas em suas conversas nada republicanas em grupos do Telegram. Ora alegam não se lembrar - em um estranho surto de amnésia coletiva -, ora dizem que o material foi alterado e ora afirmam não ver nada demais na trama. Mas o fato é que os envolvidos sabem da autenticidade. Mais, sabem de qual dos aparelhos as conversas vazaram.

Quando se visualiza uma conversa no Telegram ou mesmo no Whats App, o nome do interlocutor aparece da forma em que foi gravado na agenda daquele celular específico. E nem todos os procuradores tratam os colegas da mesma forma. Alguns registram apenas o primeiro nome, outros, o nome completo, outros, ainda, o nome e a cidade de atuação etc etc. Portanto, ao confrontar as imagens reveladas pelo Intercept com as que ainda mantêm em seu próprio aparelho, a vítima da invasão  - ou o autor do vazamento - sabe exatamente que as mensagens explícitas de atropelo à lei saíram de seu próprio aparelho.

Independentemente disso, que é um fato secundário, todos os envolvidos sabem exatamente da veracidade das informações reveladas pela série de reportagens do Intercept, Folha e Veja. E, mesmo que neguem publicamente, entre eles, em seu íntimo, convivem diariamente com o constrangimento de suas atitudes - e críticas a colegas - porque sabem o que escreveram e o que leram. Nesse momento, deve haver uma guerrinha entre a turma de Deltan e o político Sergio Moro. Bastante salutar para a democracia, diga-se.

Interpect prova autenticidade das mensagens

Independentemente da reação desesperada dos autores de uma das maiores tramas da história política brasileira - sim, Moro e a Lava Jato agiram politicamente - não há mais dúvidas da autenticidade dos diálogos. Basta ver os jeitos e trejeitos de cada um, a forma de se expressar, as formas de tratamento entre colegas, para ver que só um Nobel em literatura teria tempo e capacidade para criar perfis tão característicos.

Mas, vamos aos fatos. Em news letter publicada no último dia 06, o Intercept revela como faz a checagem dos diálogos. Não é apenas uma análise do que foi dito, mas uma série de outras questões são levantadas, como explica trecho da matéria:  

"Assim, passamos semanas obstinadamente buscando sinais que confirmassem a autenticidade das mensagens. Encontramos, em quantidade mais que suficiente: conversas de nossos repórteres com procuradores; menções a nós em outros diálogos que coincidem com datas em que procuramos a Lava Jato; referências a locais e endereços que conhecemos; discussões prévias sobre eventos a que sabemos que a força-tarefa compareceu; trocas de argumentos sobre processos à época em que eles eram julgados; comentários sobre noticiário do dia. Repórteres parceiros repetiram o procedimento, e o resultado foi o mesmo."

No caso da procuradora Monique Cheker, por exemplo, que disse que "Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados", o site fez uma checagem tripla, cruzando informações sobre a procuradora em outros sites e até em conversas com parentes.

Um exemplo é esta conversa de Monique com Deltan Dallagnol, o subchefe da Lava Jato, subordinado apenas a Sergio Moro:

"Deltan – 00:17:33 – Mo, como faço a citação do artigo? Preciso dos dados da obra em que estará inserido. Vc me passa ou indica nome se estiver já online?

Monique – 01:10:06 – Pela ABNT, faça a citação e coloque a informação “no prelo” após o nome do autor.

01:11:20 – [imagem não encontrada]

01:11:50 – O nome da coletânea será “Desafios contemporâneos do Sistema Acusatório”


Uma simples busca pelo nome do livro na internet nos levou ao site da Amazon:"





A pré-visualização do livro no site da Amazon permite que tenhamos acesso ao índice da publicação. Nele, como vemos abaixo, consta o nome de Cheker (e de nenhuma outra Monique), confirmando o que ela disse a Deltan. Ou, ao contrário do que escreveram os porta-vozes da Lava Jato, Monique é Monique:



Essa é apenas parte do serviço de checagem que envolve jornalistas do Intercept, Folha e Veja. Negar o trabalho sério de profissionais de veículos com matizes tão contrapostas é negar o óbvio. Revela apenas ignorância, má fé ou apreço por contraventores de estimação.

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Glenn Greenwald vai ao Senado para debater ameaças à liberdade de imprensa

Na próxima segunda-feira, 1°, a partir das 10h, acontece no Senado Federal audiência pública para discutir as ameaças à liberdade de imprensa no Brasil. A audiência será interativa e as pessoas poderão participar por meio do Portal e-Cidadania.

A reunião foi solicitada pelo Conselho de Comunicação Social e, de acordo com o grupo, servirá para debater os riscos atuais do exercício da profissão de jornalista no Brasil e os recentes casos de ameaças a alguns jornalistas. Foram convidados para o debate o Jornalista e Editor Cofundador do site The Intercept Brasil, Glenn Greenwald; o editor do site O Antagonista, Cláudio Dantas; o Presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Daniel Bramatti; a Presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Maria José Braga; e o ex-Presidente do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Britto.

As pessoas já podem participar enviando perguntas e comentários por meio do Portal e-Cidadania, ou do Alô Senado, no telefone 0800 61 22 11. Aqueles que participarem pelo Portal receberão declaração de participação, disponível na página do evento após seu encerramento.

Link direto para o evento: http://bit.ly/2KAOTgR

segunda-feira, 17 de junho de 2019

Manifestantes entregam Constituição a Dallagnol: acho que o senhor não a conhece

Circula nas mídias sociais um vídeo em que um pequeno grupo de manifestantes entrega uma cópia da Constituição Federal ao procurador Deltan Dallgnol. Um deles, explica: "Já que o senhor viola reiteradamente a Constituição Federal, então para que o senhor conheça esse exemplar da Constituição para que o senhor passe a aplicar a Constituição da forma devida, de acordo com os direitos fundamentos e o devido processo legal".

Deltan ouve a manifestação, mas ao tentar apresentar alguma justificativa, é interrompido. Ele recebeu o exemplar. Não há informações sobre quando ou onde o vídeo foi gravado.

Assista: